Ter acesso é uma beleza!

Quando a vida apronta pra cima da gente e nos dá uma rasteira, a autoestima vai lá embaixo, não é mesmo? Então, bora lá fazer uma mudança!

Quase sempre ajuda – Como nunca é fácil nos transformar internamente, ou até mesmo enxergar que precisamos mudar de atitude, que tal recorrer a um salão de beleza e dar aquele trato no visual?

Uma saída – De vez em quando lanço mão das exigências que uma mudança interna nos obriga e vou me embelezar com as mãos mágicas do meu cabelereiro. Sou cliente há quase 20 anos e de lá para cá poucas adaptações foram necessárias para quem, como eu, usa cadeira de rodas. Isso porque o salão é um dos – muuuuito poucos – que são acessíveis! Ufa!

É uma vergonha e é uma realidade – Não sei se em outros lugares é assim, mas aqui em Vitória as mulheres cadeirantes que gostam de se cuidar enfrentam muitos desafios. E o pior é saber que a aprovação dos projetos sem acessibilidade de salões e clínicas de estética é feita pelo município.

São muitos salões por aí! Como fiquei pensando neste assunto para a coluna, passei a observar a quantidade de salões que existem pelo caminho que faço durante a minha rotina. E é sério, amigos leitores, foram mais de 15 entre minha casa até o local onde eu trabalho. É mole?

E são muitos sem acesso – Logo, salão de beleza é um estabelecimento comercial que existe bem mais perto da gente do que se imagina... Mas é triste saber que a grande maioria das pessoas com deficiência não consegue sequer chegar à porta. Isso porque as barreiras arquitetônicas são as mais diversas. Até aqueles que ficam nos shoppings – que “parecem ser acessíveis” – escondem as armadilhas dos lavatórios.

Vejam que boa ideia! – A perseverança e a criatividade são nossos aliados para ficarmos mais belos. E olhem isso: após ouvir de um cliente cadeirante que era a sexta vez que tentava entrar em um salão de beleza, mas não conseguia – por causa da falta de acessibilidade –, um empresário decidiu criar um serviço itinerante para pessoas com deficiência, o Acessibilidade Cabeleireiro Delivery. Não é sensacional?

“Tem espaço na van” – A van adaptada percorre todo o Distrito Federal (Brasília também tem coisa boa e pessoas que trabalham de verdade) e conta com equipamentos profissionais que podem ser encontrados em um estabelecimento comum, desde o lavatório até os acessórios. Essa infraestrutura é o que diferencia o negócio do serviço prestado por cabeleireiros que atendem nas casas informalmente. E você pode fazer tudo o que quiser!

Vamos fazer também!? O investimento total foi de R$ 60 mil. Segundo o empresário, o faturamento triplicou em relação ao período em que trabalhava em um salão de beleza. “Atendo cerca de 30 clientes por mês, o que dá R$ 4.500. Não há concorrência, pois sou o único do DF que vai de van até a casa das pessoas para prestar serviço”. E a van funciona há apenas nove meses!

Cadeiras adaptadas – tesouras, secadores, produtos químicos e até um lavatório são levados na van. A água vem de um galão, que também é transportado. Ele leva também um aspirador para limpar os cabelos cortados que ficam no chão. Praticidade e conforto todos nós queremos, concorda?

Acordem empresários! Pode-se dizer que a verdadeira beleza de uma mulher não está na imagem que ela carrega, ou na maneira que ela enteia os cabelos... Mas se sentir e poder estar bonita e bem cuidada por profissionais facilitam, e muito, aquela mudança interna que mencionamos. Um bom corte, uma maquiagem e um salão de beleza sem barreiras melhoram a vida, aumentam a autoestima, promovem a inclusão, aumentam os lucros e trazem felicidade. #Partiu cortar os cabelos!

Mariana Reis – Consultora em acessibilidade
Jornal A Tribuna – 02 de junho de 2015
Coluna Livre Acesso

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