O RH e as pessoas com deficiência

Depois de mais de 20 anos da promulgação da Lei das Cotas que obriga as empresas com mais de 100 empregados a contratar Pessoas com Deficiência (PCDs), mudar a realidade do mercado continua sendo um desafio tanto para as organizações empresariais quanto para os profissionais que vivem à espera de oportunidade.


Na intermediação entre eles está a área de Recursos Humanos (RH). Embora tenha um papel essencial neste contexto, o setor de RH, no entanto, ainda não está preparado para lidar com os profissionais com deficiência, segundo aponta a pesquisa "Profissionais de Recursos Humanos: expectativas e percepções sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho", realizada este ano pela iSocial em parceria com a ABRH Nacional e a Catho. Entre os motivos apontados estão o desconhecimento da legislação e o despreparo para entrevistar pessoas com deficiência que se candidatam a vagas de emprego. Dos 2.949 profissionais de RH entrevistados, somente 35% afir-maram ter bom conhecimento sobre a Lei de Cotas; 90% disseram que sentem falta de informações sobre inclusão de pessoas com deficiência; e 56% não estão preparados para oferecer suporte aos gestores de pessoas com deficiências. O estudo mostra ainda que cerca de 50% dos gestores já entrevistaram pessoas com deficiência e, destes, 56% não se sentem bem preparados para esta função. Isto reflete a conjuntura desfavorável à contratação de PCDs, que vai desde a desinformação, o preconceito, a resistência de gestores até a falta de estrutura física das empresas e de bancos de dados com currículos deste público. No geral, as empresas só contratam para cumprir a Lei das Cotas e o PCD só é contratado por sua deficiência e não pela sua competência profissional. Com este cenário, os profissionais de RH podem e devem reconhecerem-se como agentes transformadores, buscando informações e enfrentando os desafios de executar mudanças importantes nas empresas, de adaptar e humanizar o ambiente e de promover os processos necessários para aumentar a inclusão de PCDs no mercado de trabalho. Entre as maiores dificuldades da área de RH para incluir esses profissionais está a baixa qualificação deste público. Para se ter uma ideia, no Brasil, hoje, existem mais de 45 milhões de PCDs, segundo o Censo do IBGE de 2010, sendo que 60% não têm ensino fundamental completo. Das pessoas com deficiência que se candidatam a vagas de empregos, apenas 6% possuem ensino superior completo, o que, nem sempre, atende às exigências de perfil que as empresas fazem para a contratação. Somado a isso, vem o despreparo dos gestores. Na pesquisa da iSocial, 65% dos entrevistados afirmaram que os gestores ainda têm resistência em entrevistar e/ou contratar pessoas com deficiência. Além disso, 93% consideram que os gestores necessitam de mais informações sobre a contratação e a gestão de pessoas com deficiência. Para mudar essa realidade, o profissional de RH deve desenvolver uma cultura de inclusão, assumindo um trabalho de conscientização nas empresas e a responsabilidade por contratar e acompanhar os profissionais com deficiência. É necessário criar ações que envolvam e convençam as lideranças da organização, promovendo uma comunicação mais efetiva e que traga informações sobre o tema. Também é fundamental incentivar e dar oportunidades de crescimento nas empresas para esses profissionais. Afinal, a Lei de Cotas tem o objetivo de transformar uma realidade de séculos de exclusão e desequilíbrio social. Para que as empresas vejam a necessidade e assumam o compromisso de incluir esses profissionais, é preciso que a área de RH desenvolva o entendimento da lei e tenha uma estratégia de disseminação interna para que o cumprimento da cota passe a ser uma consequência e não somente mais um objetivo a ser alcançado.

Danielle Quintanilha é presidente da ABRH-ES. Artigo publicado no Jornal A Tribuna em 27/10/2014.

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