Um novo eleitor

Em tempos de eleição é comum encontrar criticas aos políticos taxando-os de corruptos, incompetentes, interesseiros e falsos. Os candidatos parecem uma enorme vidraça que os eleitores procuram atingir com seus estilingues certeiros. Assim, de forma geral, a classe política é muito desvalorizada e a clássica visão do que seja uma república democrática é reduzida a feudos medievais. Porém, o que falta no Brasil não é bom político; o que falta é bom eleitor. Um eleitor que não seja obrigado a votar. Que tenha a liberdade de não se manifestar eleitoralmente quando percebe que os candidatos não correspondem às suas expectativas. Que não precise apresentar sua regularidade eleitoral, mostrando que votou em todas as eleições, para assumir funções públicas ou obter documentos pessoais. Um eleitor que não seja voto de "cabresto", aquele que é puxado pelo candidato de seu curral eleitoral até o ponto de votação designado, movido apenas pela força de uma promessa de emprego ou ganho financeiro. Sem personalidade própria esse tipo de eleitor, muito comum nas cidades interioranas, faz de seu voto um mecanismo de ascensão social e econômica. Um eleitor que valorize o programa de governo de um candidato, os temas priorizados e os objetivos definidos e apresentados. A transparência dos propósitos de um candidato é essencial para uma boa escolha. Que possa diferenciar o que são promessas vãs e sonhos passíveis. Um eleitor que tenha estudado Ciência Política ou Sociologia no ensino de segundo grau. Um eleitor que possa exercer o voto distrital, que vote naquele que conhece os problemas de sua comunidade, do ambiente em que mora e trabalha e que reúna qualidades para construir um futuro melhor. Para isso, é preciso que esse eleitor se envolva com associações comunitárias, trabalhos voluntários ou outras formas de cooperação cívica. Um eleitor que tenha acesso ao seu candidato após o resultado das eleições, caso ele seja eleito. Um eleitor que não vote de forma antipolitica, como forma de protesto, elegendo caricaturas políticas. Um eleitor que goste de política, a essência do gênero humano. Da boa política, das virtudes que ela tem, do compromisso social e econômico que ela representa. Que não perceba a política como algo nefasto, impuro. Que não a ironize e ridicularize seus princípios e valores. Que lute incansavelmente pela boa política, mesmo não elegendo seu candidato. E, principalmente, um eleitor que seja responsável por seu voto, por suas escolhas. Que faça autocrítica quando escolheu errado e reveja suas decisões. E que mantenha suas decisões quando escolheu bem.

ANTÔNIO MARCUS MACHADO, economista e professor universitário. Publicado no Jornal A Gazeta de 28/09/2014.

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