POLÍTICA, POLÍTICOS E DEMOCRACIA

A experiência democrática surgiu na polis de Atenas sob a liderança de Clistenes (565 a.C- 492 a.C) que foi levado pela conjuntura política de seu tempo a apoiar a implantação do governo do povo (Demo: povo e Kracia: governo).

A democracia era uma estranha em meio a governos monárquicos despóticos (autoritários) ou também teocráticos (governos religiosos). Dentro desse cenário a criação ateniense significava um mar de liberdade popular em comparação a governos que não eram movidos pela decisão do povo.

Baseado no passado a democracia nunca foi sinônimo de força dos bancos, monopólio midiático, austeridade fiscal, mercado livre, Estado mínimo e outros pilares que formam no fim das contas uma plutocracia (governo dos ricos). A experiência democrática teve e tem como alicerce o povo. Por isso sofria muitos ataques, já que os detratores do regime acusavam o povo de não ter capacidade de participar e orientar as ações governamentais.

A participação popular nos destinos da sociedade é uma realidade muito nova. Tanto é que a decadência ateniense levou junto com ela a democracia. Os governos mantiveram-se capitaneados por uma elite e os sistemas religiosos explicavam que tudo era assim por que Deus ou os deuses (caso fossem politeístas) assim haviam determinado. Era a naturalização da diferença social entre as classes.

Nos nossos dias aprendemos a não confiar nos políticos. Obviamente a classe tem feito de tudo para não merecer respeito já que se mostra mais ávida em proteger interesses e privilégios do que trabalhar em prol da coletividade. Cada vez mais os políticos mostram em sua maioria um distanciamento dos anseios populares. Acontece que as falhas dos políticos não podem ou não deveriam enfraquecer a fé das pessoas na política.

Qual o poder de decisão das pessoas dentro de um conselho de um banco? Qual o poder de decisão dentro de um jornal ou uma emissora de tevê? Qual a participação nas decisões de empresas de transporte, empreiteiras, empresas de segurança, automotoras, empresas alimentícias, de intensivos agrícolas e do cassino financeiro conhecido pelo eufemismo de bolsa de valores?

A participação popular existe é na política. Se os políticos decepcionam significa que as escolhas têm sido ruins. Acontece que escolhas ruins são melhores do que não poder escolher e participar. Abrir mão do voto (mesmo que seja nulo ou branco) e aceitar que ele é algo menor representa um erro e até mesmo um desrespeito aos que lutaram e morreram pela participação popular nas decisões políticas.

O Brasil viveu a partir de junho do ano passado uma série de manifestações populares. O assustador nessas manifestações foi à força do discurso repressivo que quer torná-las um crime. O discurso criminalizante era o mesmo da época da ditadura (1964-1985) em relação aos que eram contrários a ela. De onde brota o ódio contra os movimentos populares? De onde surge um desejo de intervenção militar por parte de alguns para ferir a democracia?

A vida democrática faz-se com participação e embates dentro da esfera da legalidade. O campo político não pode ser desprezado e visto como totalmente corrompido e sem esperanças já que a participação política é o meio pelo qual o povo pode agir para se proteger da sanha financeira, de defensores de justiçamentos e golpes militares. Faz-se necessário defender os direitos adquiridos com muita luta e sofrimento ao longo da história.
 

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