AS ÁGUAS DE 1935

Em Vila Velha, até hoje não houve uma intervenção resolutiva para combater as enchentes, a não ser a já conhecida estrada do dique

 

Se fosse pela agressiva influência das águas, não haveria tantas pessoas morando e tantos negócios prosperando em países como Holanda, Itália, Estados Unidos e vários outros. A Holanda tem lugares, como a provincia de Flevoland, que ficam mais de trés metros abaixo do nivel do mar, totalmente inundáveis. A Itália tem a incomparável Veneza cujas águas invadem a Praça São Marcos. Os EUA tem várias cidades no Colorado e na Louisiana que fazem submergir sonhos, bens e pessoas de forma indelével. Recentemente os noticiários globais relataram essas tragédias ou o que é feito para evitar seus danos maiores.

Com séculos de experiência e profundos estudos ano hidrologia, os holandeses priorizam ações preventivas, apesar de também dominarem bem as ações relacionadas à gestão de desastres. Em 1939, a cidade de Charleston, no Estado norte americano de West Virginia, teve uma gravíssima enchente. Aconteceu o mesrno em Vila Velha, quatro anos antes. Lá a solução foi construir um bom dique e uma grande lagoa de contenção, hoje ponto turístico e de lazer náutico. Nunca mais tiveram problemas de inundação, pois disciplinaram o uso do solo sem, entretanto, inviabilizar projetos empresariais. Aqui, até hoje não houve uma intervenção resolutiva a não ser a já conhecida estrada do dique, às margens do rio Jucu, ao se aproximar de seu ponto de encontro com o mar. Isso, após a forte enchente de 1960.

Agora, as águas nos vieram dizer que precisamos agir com urgência. Ao longo da história do município alguns prefeitos envidaram esforços para resolver essa questão, mas percebe-se que nunca se concluiu algo definitivo. As razões para tal insucesso passam pela ausência de visão metropolitana, com cada um tentando resolver o seu próprio problema e, também, pela insuficiência de recursos financeiros. Ou o governo do Estado entende que esse é um problema sério e que atinge toda a região metropolitana ou continuaremos a mercê da benevolência das águas. E entender o problema é buscar estudos e projetos, inclusive em nivel internacional, debater com a sociedade organizada e canalizar recursos para a execução de suas ações recomendatórias.

Essa questão não pode ser uma mera disputa entre a classe empresarial e a administração pública, como se fossem antagônicos. É possivel conciliar o interesse de ambos, como foi feito nas cidades e nos panes mencionados no início deste texto. Sempre com base em estudos, de forma transparente e participativa. Há 79 anos Vila Velha teve sua primeira e forte enchente. Confirmando Parmêmides, as águas são as mesmas.

 


Antonio Marcos Machado


Publicado no Jornal A Gazeta em 5 de fevereiro de 2014.

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