Cabe mais um no seu pacote?

“Para viajar basta existir” (Fernando Pessoa). Mas, no caso do turista com deficiência, não basta. É preciso uma boa dose de disposição para encontrar não só profissionais ou agências que vão saber das reais necessidades de cada um, como também verificar se aquele destino escolhido oferece acessibilidade.

Para mim e outras milhões de pessoas com deficiência do Brasil, a maioria das escolhas ainda é pouco provável, pois são limitados os roteiros que nos permitem curtir como qualquer cidadão.

Atenção, gestores e empresários – Hoje, começamos a perceber que a questão da acessibilidade no turismo tem se constituído em uma preocupação ética e socialmente relevante. Sem falar na dimensão econômica importante, mas nem sempre valorizada pelos gestores do turismo.

E essa falta de interesse por parte dos agentes prestadores de serviços turísticos pode ser justificada, em parte, pela falta de informação e de conhecimento sobre o potencial econômico do turismo designado como acessível.

No País, cerca de 46 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, segundo Censo de 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não há dúvidas do potencial dos consumidores com deficiência.

A legislação existe e tem de ser cumprida – Já tive a oportunidade de viajar para o exterior e garanto que encontrar condições de acessibilidade é bem mais fácil do que nos pacotes oferecidos no Brasil.

Isso se deve ao cumprimento rigoroso das legislações e também por terem uma visão ampliada do mercado consumidor.

Ampliar o foco de visão – A oferta do turismo acessível deve ser entendida num quadro alargado de públicos diferenciados, que inclui ainda quem viaja com crianças pequenas ou com idosos, gestantes, obesos, entre outros.

Embora o fornecimento de uma infraestrutura acessível seja a base para a participação nas atividades turísticas por parte desses públicos, a acessibilidade no turismo é também uma questão de ambientes e de experiências positivas.

Sem contar que esses turistas apresentam um elevado nível de fidelização, dado que, quando satisfeitos, tendem a voltar àqueles destinos que lhes garantem a fruição de experiências turísticas seguras e sem barreiras.

O primeiro passo – Todos nós sabemos da sensação maravilhosa que sentimos quando exploramos novos lugares.

Ainda que o País caminhe a passos lentos nesse segmento turístico, principalmente pelas dificuldades sociais e econômicas, é possível que essas experiências sejam vividas dentro do seu estado, no município ao lado ou mesmo conhecer uma parte diferente da sua cidade e do seu bairro, como um parque, um museu, um teatro, uma praia, ou um monumento histórico e etc.

Ah, falando em parque de diversão, acaba de chegar um em Vitória. Será que tem acessibilidade? Vou lá conferir e conto depois.

É preciso preparar os profissionais – Quando falei em disposição, não posso deixar de reforçar o quão difícil também é encontrar centros de informações turísticas que saibam nos informar sobre a acessibilidade dos locais, então a dica é procurar essas informações antes de viajar ou passear.

Certa vez, liguei para uma pousada em Santa Teresa, onde tem um dos maiores eventos de jazz – que amo. Perguntei ao atendente se a pousada tinha acessibilidade, surpreso respondeu: “Sensibilidade?”.

Respondi: “Sim!”. Ele continuou: “A cidade é linda e dificilmente a senhora não se sensibilizará”. Eu, maravilhada com a resposta, disse: “Estou indo agora!”.

Cômico se não fosse trágico – Isso foi uma brincadeira. Claro que fui, mas acontece de verdade. Sempre levo na esportiva, mas não deixo de informar sobre a questão do acesso a todos.

Mesmo assim, é muito difícil viajar para lugares pequenos e principalmente para o interior do Estado. Precisamos “sensibilizar” e melhorar, não acham?

Mariana Reis – Consultora em acessibilidade
Jornal A Tribuna – 28 de julho de 2015
Coluna Livre Acesso

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