Julho tem colônia! Para quem?

Um pouco da história – A primeira colônia de férias no Brasil iniciou na década de 1930, no Forte de São João, atual Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro, com o objetivo de manter a ordem por meio da ocupação do tempo dos filhos dos militares.

Esse tempo passou e as colônias de férias ao longo dos anos vêm sendo transformadas. Nos dias de hoje, os pais que matriculam seus filhos em uma colônia de férias têm objetivos sociais, culturais, além de esperarem que as crianças tenham experiências enriquecedoras. Será?

Julho! E lá vêm férias! Apesar de estar quase no final, muitas crianças ainda curtem a folga do colégio. É um período de muita diversão e, quase sempre, um motivo de preocupação para os pais que trabalham o dia todo e não podem ficar de olho nos pequenos. Uma solução para isso – e que agrada tanto os pais como os filhos – são as colônias de férias, que garantem o divertimento saudável da garotada e dão a segurança aos pais.

Lá fui eu mais uma vez... Assumi a missão de visitar locais que promovem essas colônias de férias. Dentre as observações, como local, ficha de inscrição, preços, acesso, quantidade de recreadores, atividades e etc., a que mais me surpreendeu foi não ver em nenhuma a participação de crianças ou adolescentes com deficiência.

Ah, o que é igualmente pior, não entender o objetivo das atividades propostas. Era cada atividade sem pé nem cabeça, que até fiquei constrangida em estar ali observando... Acho que aí também entra a falta de profissionais capazes de mediar tais atividades. Alô!

Por que as crianças com deficiência não estão envolvidas? É uma resposta que precisamos buscar, pois entendo que brincar, jogar, passear e divertir são necessidades básicas primordiais para o desenvolvimento pessoal e social do ser humano e por essa razão, devem ser asseguradas a todos. To-dos!

Lazer é direito. Vamos entender – O ato de planejar qualquer ação e, nesse caso especifico, uma atividade de lazer, implica uma organização que deixa clara nossa visão de mundo e de sociedade, ou seja, que tipo de ser humano desejamos para nosso convívio social, que lazer desejamos oferecer?

Então, pensar o lazer enquanto um direito social, presente na Constituição Brasileira de 1988, é pensar quais são as opções de lazer que a sociedade tem a oportunidade de usufruir, tanto no âmbito da iniciativa privada, quanto por meio das políticas públicas de lazer propostas pelo governo federal, estadual e municipal.

Daí, que fui pesquisar sobre os aspectos legais – Uma das colônias que visitei não tinha acessibilidade e as atividades aconteciam em lugares com escadas e outras barreiras. Uma criança com deficiência visual, por exemplo, com certeza seria impedida de usufruir das sessões de filmes que, em todas, faziam parte do pacote.

Em conversa com um amigo advogado, fui informada que as colônias de férias se enquadram para a Receita Federal, na mesma categoria de hotéis e pousadas e, além disso, elas precisam de alvarás de funcionamento, licença dos bombeiros e outras formalidades para funcionar.

Já conhecemos esse filme – de terror – da liberação de alvarás sem respeitar os critérios de acessibilidade, né? Eles continuam em “cartaz”. Oh céus!

O processo de inclusão é complexo, eu sei – E não pretendo neste texto, tampouco com as visitas que fiz às colônias, minimizar ou encerrra as discussões sobre este difícil e longo percurso.

Pelo contrário, meu objetivo é acender o debate e pensar sobre alguns fatos que podem nos ensinar como agir e melhorar diante de situações semelhantes a esta que acabo de relatar.

Um alerta que pode sinalizar um caminho – para as próximas férias, fica o convite para que, ao planejarmos tais atividades, saiamos da nossa zona puramente mercadológica e de conforto que nos distancia das inúmeras possibilidades, para outra, a do direito que nos aproxima e nos auxilia na compreensão das diferenças.

Que possamos dar toda atenção para novas experiências, para as potencialidades humanas, para as necessidades tanto individuais quanto coletivas e, principalmente, aos pequenos gestos.

Mariana Reis – Consultora em acessibilidade
Jornal A Tribuna – 21 de julho de 2015
Coluna Livre Acesso

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