O Tempo

Um dos maiores atores políticos do século passado, talvez o maior dos ingleses de seu tempo. Winston Churchill disse uma vez que "o homem é do tamanho exato das coisas que despertam sua raiva". Pensando um pouco sobre o sentido dessa frase nos damos conta de que não dispomos nem da décima parte do nosso tempo livre para nos dedicarmos ao que realmente importa, ao que nos traz contentamento, aquilo que realmente produz resultados positivos capazes de melhorar nossa vida, a vida das pessoas que amamos, ou mesmo de nossa comunidade, cidade, estado etc. Noventa por cento de nosso cotidiano é tomado pelo automatismo de nossos deveres sociais, familiares, até orgânicos, como tomar banho e comer, e, lembrando que a liturgia do sono consome em média 8 horas, chegando a algo em tomo de uma diária para nos dedicarmos exclusivamente a separar "o joio do trigo de nossa exigência, decidindo, como um controlador de estoque, quais os recursos disponíveis para nossos próximos passos, projetos de vida, ações e anos, ou dias, restantes. Muitas vezes esse controlador de estoque depara com um aviso de que, por alguma razão natural, esse estoque de tempo será abreviado. Outros são surpreendidos com a faca do destino mesmo sem aviso. E tudo o que não se fez com o que se tinha se transforma em desperdício. Li um dia desses uma frase que definia saudade de uma forma nova, porém fantástica: o homem não sente saudade do que foi e não mais o será, mas da perspectiva do que poderia ter sido. Como cobiçamos apenas aquilo que não temos, a maior jornada do ser humano é por algo que se assemelhe à vida eterna. Crenças pessoais à parte, nada nos assegura o infinito de oportunidades, ou a possibilidade de voltar no tempo para fazer ou desfazer alguma coisa. Temos que aprender a administrar o tempo, porque nenhum controle sobre ele exercemos. É curioso ler algumas frases do tipo "salvemos o planeta", porque o planeta não está "nem ai" para a espécie dominante que habita e pele chamada superfície por um tempo ridiculamente pequeno. Se são bactérias, dinossauros ou seres humanos, pouco importa. Mais uns poucos milhões de anos, e nova cadeia de vida se instala. Mas insistimos em odiar a pessoa que nos xinga no trânsito, aquela que contou um segredo que não deveria, a outra que traiu um e compromisso, mais aquela que disputou conosco a única cadeira disponível. Ou gastamos nosso tempo planejando "ensinar ao cafajeste", em "mostrar à malcriada", em "jogar na cara do cretino". Nossa vida, salvo esporádicos eventos grandiosos, é uma sucessão de pequenos atos e fatos desimportantes somados. Um dia o tempo acaba, e não nos sobra nem o troco.

Gustavo Varella Cabral é advogado, professor, especializado em Direito Empresarial e mestre em Direito Constitucional / Publicado no Jornal Metro

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