17

A linguagem da política mudou para atender uma nova realidade

Estão sendo utilizados termos e expressões de outras áreas de conhecimento

Não é por acaso que, cada vez com maior frequência, as pessoas se referem aos aspectos midiáticos da política moderna, seja por admiração seja por rejeição.

Também não é novidade que profissionais de sucesso, das áreas de publicidade, televisão, jornalismo, psicologia, auto-ajuda, passaram a ocupar papel de centralidade nas campanhas eleitorais e no exercício do governo, ao lado ou mesmo substituindo políticos, estrategistas e cientistas políticos.


Da televisão foram importadas expressões como “teleprompter”

Não deve, pois, ser surpresa que a linguagem da política foi penetrada por termos e expressões oriundos dessas outras áreas de conhecimento e de atividade profissional. Vejamos alguns exemplos:

Do marketing, de forma especial, nos atropelaram não apenas termos que correspondem a instrumentos modernos, mas além desses, termos que expressam uma nova forma de ver a política como, “vender o candidato”, “construir, corrigir, desconstruir a imagem”, “mídia training”, “damage control”, “administração de crises”, “marca”, “identidade visual”, “media mix”, “mensagem”, “outdoors”, “banners”, “teaser”, “backdrop”, “arte final”...

Da TV importamos expressões como, “teleprompter”, “ao vivo”, ”vinheta”, “comerciais televisivos”, “arte final”, “backlight”, “assinatura”, “estúdio”, “locação”, “cabeça falante”, “direção de arte”...

Também da internet passam a fazer parte da linguagem política expressões como “site”, “email”, “blog”, “twitter”, “flash mobs”, “video-conferências” “mailing list”, “deletar”, “backup”, “fazer download”, “link, linkar”, “marketing viral”, “vírus”, “salvar”...

“Do jornalismo provêm expressões como “copy desk”, “deadline”, “gancho”, “coletiva”, “ release”, “briefing”, “em off”, “ghost writer”, “furo”, “follow up”, “lay out”...

Da pesquisa estamos já habituados com o uso - ainda impreciso, mas não obstante uso disseminado - de termos técnicos como “amostra”, “universo” “margem de erro”, “tendência”, “pesquisa quantitativa e qualitativa”, “pergunta espontânea”, “pergunta estimulada”, “cruzamentos”, “survey”, “questionário”, “graus de confiança”, “Banco de dados” “grupos de discussão”....

Do cinema nos vêm termos como “roteiro”, “cores: fria, quente, primárias, secundárias”, “script”, “trilha sonora”, “cortina”, “corte”, “frame”, “iluminação”, “estruturas narrativas”, “produção”...

Do telefone como deixar de mencionar o “torpedo”, o “tele-marketing político - ativo e receptivo”, “pesquisas por telefone”, “o gravador”, “o despertador”, “bluetooth”, o “viva voz”, a “calculadora”, a “câmera fotográfica e de vídeo”....

Da política inclusive, vieram importantes contribuições. Afinal, diante tantas expressões novas, o assunto ao qual todas se referiam era a política!

Mediante os avanços da ciência política e suas muito próximas relações teóricas e empíricas com a sociologia, a antropologia, a história, a psicologia social, entre outras, a moderna terminologia da ciência política também irrigou a política com termos que, se não eram novos no mundo acadêmico, não faziam parte da linguagem usual da política prática. Conceitos como “legitimidade”, “soma zero”, “cultura política”, “soma múltipla”, “valores, crenças, preconceitos”, “persuasão”, “sedução política”, “macartismo”, “issues”, “sistemas eleitorais”, “carisma, carismático”, “coerção”, “tirania da maioria”, “totalitarismo", “posicionamento da candidatura, do governo”, “segmentação do eleitorado”, “histeria”, “racionalidade e sentimentalismo”, “feudalismo", "patrimonialismo”, “patronagem”, “assistencialismo”, “estruturas e funções”, “democracia estável, instável”, “papel social e político”, “estratégia”, “campanha permanente”, “táticas”, “sound bite” e muitos outros que seria excessivo mencionar.


Da internet surgiram expressões como site, deletar, linkar e salvar

Ufa! Não terminamos, mas nosso objetivo não é produzir um dicionário sobre expressões políticas importadas de áreas que lhe são adjacentes.

Quais as principais conclusões que podemos extrair dessa descrição da nova linguagem da política?

1. A linguagem da política mudou substancialmente;
2. A mudança enriqueceu a linguagem política com novos conceitos das mais variadas áreas;
3. A principal origem das mudanças é os EUA.

Já vimos em outros textos, recentemente publicados no site, (“A Política mudou. Quem não entendeu está fora do jogo”) os processos sociais que levaram à mudança na forma de se fazer política. É óbvio que, se a política mudou, a linguagem para expressar tais mudanças não poderia ser a do período pré-mudança! Uma nova linguagem teria que surgir para corresponder às novas realidades.

Uma pessoa com formação política dos anos 80 e que não acompanhou essas mudanças terá muita dificuldade para entender uma discussão sobre campanha eleitoral nos nossos dias.

Não se trata apenas de novos nomes atribuídos às mesmas coisas. São nomes novos que correspondem a novas realidades, instrumentos e novos comportamentos.

Esse atraso corresponde à realidade em que a maioria dos candidatos e governantes no Brasil, praticam a política.

A resistência para aceitar as mudanças, para compreender que precisa aprender com elas, e para submeter-se à nova disciplina imposta pelas mudanças continua muito forte, não obstante as aparências de aceitação.

Assim sendo, é comum que o candidato queira que se faça um “planejamento estratégico”, aceite discutir questões de “imagem”, queira fazer “pesquisas”, se comprometa com uma “estratégia”. Entretanto, não obstante as boas intenções, elas ainda são, essencialmente, concessões aos novos tempos, estão longe de ser uma convicção.

Diante das primeiras dificuldades e das pesquisas com resultados insatisfatórios, aquela disciplina é abandonada, o planejamento estratégico passa a ser visto como uma perda de tempo: a estratégia não está funcionando e a forma antiga e tradicional de se fazer política é reimplantada. Para evitar isso, é fundamental que:


Equipe de campanha: estrategistas, pesquisadores e publicitários

• O candidato ou governante entenda que a política moderna não é uma opção para ele. É um imperativo da sua competitividade.

• Que a política moderna tem, no seu núcleo central, em torno do candidato, profissionais contratados: estrategistas, pesquisadores e publicitários, escolhidos por ele.

• Que, ao adotar as técnicas da política moderna, não comprou um bilhete para o sucesso inevitável. Apenas entrou no jogo, dentro das novas regras em que é jogado.

• Que uma campanha pode mudar. A dinâmica da política pode criar a necessidade de mudar. Mas atenção: muda-se uma estratégia por outra, um planejamento por outro, produzidos pelo mesmo rigor lógico que gerou o primeiro. Não se muda uma estratégia bem pensada, balizada por pesquisas, ou um planejamento responsável, por decisões casuísticas, pela cópia do que o adversário está fazendo, por decisões motivadas pela emoção.

• Que o retorno às práticas tradicionais pode dar o consolo de lidar com o conhecido, mas implica no retrocesso. Você deixará de usar os instrumentos mais poderosos, pelos que já estão superados.

• Que seu sucesso, agora como antes, dependerá da qualidade de suas escolhas, do acerto de suas decisões, do seu trabalho e do talento da sua equipe.

• Que o sucesso de uma campanha, agora como sempre, depende também das qualidade de seus adversários.

• Você pode fazer tudo certo e assim mesmo perder, desde que seu adversário também faça tudo certo e contabilize, além disso, uma vantagem estratégica que você não tem.

• Que hoje, a sua função de líder é muito mais complexa do que já foi, e, por outro lado, muito menos intuitiva e voluntarista do que costumava ser.

• Que uma campanha sempre começa por pensá-la estrategicamente. Deve começar por um esforço intelectual do candidato ou governante e de sua equipe, para entender o que o eleitor espera, o que aprova e o que rejeita; e como conciliar seus planos com aquelas prioridades do eleitorado; e como apresentar uma mensagem coerente, convincente e persuasiva.

Fonte: Site Política para Políticos

©copyright2006 - Todos os direitos resevados AD2000 Consultoria e Marketing Político www.politicaparapoliticos.com.br

(Leia mais)

 

Páginas: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14