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Ao contrário do que muitos podem imaginar, a maioria dos deslocamentos na Capital são feitos a pé. Planejar a cidade para pessoas coloca o pedestre como o maior protagonista desse espaço. Para uma mobilidade urbana sustentável, é preciso ter ações corteses, que garantam a segurança no passeio, conhecido como calçada.

Calçadas com faixa de percurso seguro, sem obstáculos, com piso que não escorregue e não provoque trepidações são fundamentais para garantir a mobilidade de todos, sobretudo de pessoas que apresentam alguma dificuldade de locomoção, como idosos, grávidas e cadeirantes.

Para ter a cidade que queremos, precisamos unir forças para que os proprietários dos imóveis reformem suas calçadas, se irregulares, em uma atitude de cidadania e respeito ao próximo. A Secretaria de Desenvolvimento da Cidade criou, para esse fim, um serviço exclusivo de orientação técnica gratuita aos proprietários dos imóveis.

O município também esta fazendo a sua parte na contratação de obras de recuperação das calçadas de seus imóveis e na aprovação de projetos de novas edificações ou de reformas, a contemplar a acessibilidade. Se todos ajudarem, em breve Vitória se consolidará como uma capital acessível ao pedestre e a pessoas com mobilidade reduzida.

Em outra frente, o urbanismo e intervenções de trânsito seguro estão sendo usados a favor de quem caminha. Ilhas de pedestres, rotatória e faixas elevadas protegem a travessia nos cruzamentos. Iluminação com luz branca nas principais vias, que conferem mais segurança a noite e espaços arborizados promovem um bem estar para quem anda pela cidade.

Uma cidade que pensa no futuro precisa dar um tratamento especial à rua, que é o tradicional lugar de encontro e de relacionamento social. Nesse sentido, planejamos novas Ruas Vivas, como a do Triângulo na Praia do Canto, para pedestres aproveitarem o comércio durante o dia e a vida noturna.

Assim, a Capital já vive, nos últimos anos, uma releitura de suas vias para garantir o passeio seguro dos pedestres e de ciclistas. Essas modalidades de locomoção fazem bem a saúde e, inclusive, permitem uma maior apreciação dos bens culturais, praias, paisagens e monumentos.

Com uma calçada adequada, é possível contemplar mais nossas belezas, sem se preocupar com obstáculos. Certamente será uma forma de fazer as pessoas viverem uma cidade ainda mais acolhedora, como é Vitória.

 
Lenise Loureiro, Secretária Municipal de Desenvolvimento da Cidade de Vitória (Artigo publicado no caderno Opiniões do jornal A Gazeta de 29/05/2015)
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Um dos maiores atores políticos do século passado, talvez o maior dos ingleses de seu tempo. Winston Churchill disse uma vez que "o homem é do tamanho exato das coisas que despertam sua raiva". Pensando um pouco sobre o sentido dessa frase nos damos conta de que não dispomos nem da décima parte do nosso tempo livre para nos dedicarmos ao que realmente importa, ao que nos traz contentamento, aquilo que realmente produz resultados positivos capazes de melhorar nossa vida, a vida das pessoas que amamos, ou mesmo de nossa comunidade, cidade, estado etc. Noventa por cento de nosso cotidiano é tomado pelo automatismo de nossos deveres sociais, familiares, até orgânicos, como tomar banho e comer, e, lembrando que a liturgia do sono consome em média 8 horas, chegando a algo em tomo de uma diária para nos dedicarmos exclusivamente a separar "o joio do trigo de nossa exigência, decidindo, como um controlador de estoque, quais os recursos disponíveis para nossos próximos passos, projetos de vida, ações e anos, ou dias, restantes. Muitas vezes esse controlador de estoque depara com um aviso de que, por alguma razão natural, esse estoque de tempo será abreviado. Outros são surpreendidos com a faca do destino mesmo sem aviso. E tudo o que não se fez com o que se tinha se transforma em desperdício. Li um dia desses uma frase que definia saudade de uma forma nova, porém fantástica: o homem não sente saudade do que foi e não mais o será, mas da perspectiva do que poderia ter sido. Como cobiçamos apenas aquilo que não temos, a maior jornada do ser humano é por algo que se assemelhe à vida eterna. Crenças pessoais à parte, nada nos assegura o infinito de oportunidades, ou a possibilidade de voltar no tempo para fazer ou desfazer alguma coisa. Temos que aprender a administrar o tempo, porque nenhum controle sobre ele exercemos. É curioso ler algumas frases do tipo "salvemos o planeta", porque o planeta não está "nem ai" para a espécie dominante que habita e pele chamada superfície por um tempo ridiculamente pequeno. Se são bactérias, dinossauros ou seres humanos, pouco importa. Mais uns poucos milhões de anos, e nova cadeia de vida se instala. Mas insistimos em odiar a pessoa que nos xinga no trânsito, aquela que contou um segredo que não deveria, a outra que traiu um e compromisso, mais aquela que disputou conosco a única cadeira disponível. Ou gastamos nosso tempo planejando "ensinar ao cafajeste", em "mostrar à malcriada", em "jogar na cara do cretino". Nossa vida, salvo esporádicos eventos grandiosos, é uma sucessão de pequenos atos e fatos desimportantes somados. Um dia o tempo acaba, e não nos sobra nem o troco.

Gustavo Varella Cabral é advogado, professor, especializado em Direito Empresarial e mestre em Direito Constitucional / Publicado no Jornal Metro

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Uma grande parte da sociedade brasileira está se mobilizando, principalmente pelas redes sociais, para um movimento popular que poderá demonstrar nas ruas de várias cidades do país a insatisfação com os serviços públicos e a política brasileira. A educação esquecida, a saúde abandonada, a insegurança que nos assusta, a mobilidade urbana que não funciona, o poder público lento ou omisso nas ações, e o governo federal envolvido em corrupção, como nunca visto antes na história desse país, levam o povo brasileiro, principalmente a juventude, a perder a esperança e a perspectiva de oportunidades.

São muitos os motivos dessa convocação, mas fica nítida a insatisfação com o atual modelo político administrativo em todas as esferas de poder. Mas, não é generalizando, acusando todos os políticos de corruptos e incompetentes, que conseguiremos mudar essa realidade. Dessa maneira vamos afastar, definitivamente, da vida pública todas as pessoas de bem. Não existe instrumento mais eficiente e eficaz contra o mau político do que o voto consciente e responsável. É com o verdadeiro exercício da cidadania que encontraremos o caminho para a manutenção da democracia republicana. As regras eleitorais precisam ser debatidas e alteradas com a participação de toda a sociedade. Necessitamos de uma REFORMA POLÍTICA JÁ!

"O Gigante Acordou"? Acredito que o gigante Brasil apenas abriu um olho no movimento que levou milhares de pessoas às ruas em 2013. Mas agora, precisa abrir o outro, acordar do estado de coma em que se encontra e se levantar. Esse movimento deverá mudar verdadeiramente a consciência da maioria do povo brasileiro, principalmente dos jovens, quanto à necessidade de mais critérios e responsabilidade na escolha e fiscalização dos seus representantes políticos, nas próximas eleições.

A classe política também deve refletir sobre essa crise de representatividade no país e no mundo. É necessário e prudente mudar a relação com os eleitores, correspondendo aos verdadeiros anseios da sociedade. Não existe mais tolerância para a corrupção e incompetência no setor público que sempre resultam em promessas que não são cumpridas.

As manifestações da sociedade nas ruas do país são legítimas e necessárias. A liberdade de expressão tem que ser garantida. Apoio e participo dos protestos nas ruas, mas toda e qualquer forma de violência precisa ser evitada e combatida, pois coloca em risco a legitimidade do movimento e dá margem a desdobramentos indesejáveis para a nossa democracia. Os protestos são por direito, mas também é importante se lembrar dos nossos deveres como cidadão.

‘’Se queremos mudar o mundo, devemos começar por nós mesmos.’’ (Dalai Lama)


Ricardo Chiabai
- Arquiteto, urbanista e vereador de Vila Velha

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Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, na noite de quinta-feira, o projeto que cria a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (PL 7699/06), antes conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência.

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) foi construída com a participação da sociedade pelo e-Democracia, site da Câmara destinado a consultar a população, e com a tradução da proposta para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), entre outras medidas. Ficou por cerca de seis meses sob consulta pública e recebeu cerca de mil propostas e contribuições vindas do portal, de e-mails e ofícios.

Convenção Internacional, nosso maior instrumento legal e de maior conquista também - O texto aprovado é um substitutivo da relatora, deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), e tem como base a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o primeiro tratado internacional de direitos humanos a ser incorporado pelo ordenamento jurídico brasileiro com o status de emenda constitucional

A Convenção já definiu, mas com a LBI esse conceito evoluiu - E, por isso, a sua principal inovação reside na conceituação de deficiência, não mais compreendida como uma condição estática e biológica da pessoa, mas como o resultado da interação das barreiras impostas pelo meio com as limitações de natureza física, mental, intelectual e sensorial do indivíduo.

Neste sentido, a deficiência deixa de ser um atributo da pessoa. Passa a ser, portanto, o resultado das respostas inacessíveis que a sociedade e o Estado dão às características de cada um.

É sempre bom reforçar para farm valer o direito - A proposta trata de vários aspectos do cotidiano da pessoa com deficiência, como o acesso ao transporte, à moradia, educação e trabalho. O texto determina, por exemplo, que programas de habitação reservem 3% das unidades habitacionais a pessoas com deficiência.

Conquistas importantes e na LBI - Outras inovações do texto aprovado são: a criação do auxilio-inclusão, a ser pago as pessoas com deficiência moderada ou grave que entrarem no mercado de trabalho, e define pena de reclusão de um a três anos para quem discriminar as pessoas com deficiência, além da reserva de 10% de vagas às pessoas com deficiência nos processos seletivos de curso de ensino superior.

Dados sobre esse público, o grande desafio - Quando conseguirmos saber quem são e por onde estão, muitas situações de desigualdade serão eliminadas. E uma das propostas do projeto também é criar o cadastro de inclusão, com a finalidade de coletar, processar, sistematizar e disseminar informações georreferenciadas, que permitem a identificação e a caracterização das pessoas com deficiências e as barreiras que impedem fazer valer os seus direitos.

Calçadas brasileiras, atualmente uma barreira intransponível - A LBI estabelece que a reforma de todas as calçadas passa a ser obrigação do poder público, que deverá tornar todas as rotas acessíveis. Atualmente, essa responsabilidade é dos moradores. Minha torcida é grande. Mas, como nem tudo são flores - O Plenário aprovou um destaque do PRB que excluiu a possibilidade de o juiz autorizar a interrupção imediata das transmissões, comunicações ou divulgações de veículo de comunicação, se houver prática de induzir ou incitar a discriminação de pessoa em razão de sua deficiência.

Difícil acreditar que isso ainda ocorra - Mas vencemos! O PRB também apresentou destaque para retirar do texto a previsão de que o sistema público de saúde deva respeitar a identidade de gênero e a orientação sexual das pessoas com deficiência. O destaque, no entanto, foi rejeitado, e a previsão permanece no texto. Ufa!

Por mais que o Brasil já tenha as melhores e maiores legislações na área, precisamos aprimorar, sempre. Fico feliz com mais uma conquista para a eliminação das vulnerabilidades vividas pelas pessoas com deficiência. O texto da Lei Brasileira de Inclusão, por ter sido modificado na Câmara, retorna para análise do Senado. E que seja rápida e volte para uma nova votação!

 

MARIANA REIS é consultora em acessibilidade. / Publicado no Jornal A Tribuna - ES em 10/03/2015

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Geralmente o processo educativo da sociedade com suas instituições como a rede de escolas e de universidades estão sempre atrasadas em relação às mudanças que acontecem. Não antecipam eventuais processos e custam-lhes fazer as mudanças necessárias para estar à altura deles.

Entre outras, duas são as grandes mudanças que estão ocorrendo na Terra: a introdução da comunicação global via internet e redes sociais e a grande crise ecológica que põe em risco o sistema-vida e o sistema-Terra. Podemos eventualmente desaparecer da face da Terra. Para impedir esse apocalipse a educação deve ser outra, diversa daquela que dominou até agora.

Não basta o conhecimento. Precisamos de consciência: uma nova mente e um novo coração. Precisamos também de uma nova prática. Urge nos reiventar como humanos, no sentido de inaugurar uma nova forma de habitar o planeta com outro tipo de civilização. Como dizia muito bem Hannah Arendt:”podemos nos informar a vida ainteira sem nunca nos educar”. Hoje temos que nos reeducar e no reinventar como humanos.

Por isso, acrescento às dimensões acima referidas, estas duas: aprender a cuidar e aprender a se espiritualizar.
Mas antes faz-se mister, previamente, resgatar a inteligência cordial, sensível ou emocional. Sem ela, falar do cuidado e da espiritualidade faz pouco sentido. A causa reside no fato de que todo sistema moderno de ensino se funda na razão intelectual, intrumental e analítica. Ela é uma forma de conhecer e de dominar a realidadade, fazendo-a mero objeto. Sob o pretexto de que a razão sensível impediria a objetividade do conhecimento, foi recalcada. Com isso surgiu uma visão fria do mundo. Ocorreu uma espécie de lobotomia que nos impede de nos sentir parte da natureza e de perceber a dor os outros.

Sabemos que a razão intelectual, como a temos hoje, é recente, possui cerca de 200 mil anos quando surgiu o homo sapiens com seu cérebro neo-cortical. Mas antes dele, surgiu há cerca de 200 milhões de anos, o cérebro límbico, por ocasião da emergência dos mamíferos. Com eles, entrou no mundo o amor,o cuidado, o sentimento que se devotam à cria. Nós humanos, esquecemos que somos mamíferos inteletuais. Logo, somos fundamentalmente portadores de emoções, paixões e afetos. No cérebro límbico reside o nicho da ética, dos sentimentos oceânicos como os religiosos. Antes ainda há 300 milhões de anos, irropeu o cérebro reptilínio que responde por nossos reaçõs instintivas; mas não é o caso de abordá-lo aqui.

O que importa é que hoje temos que enriquecer nossa razão intelectual com a razão cordial, muito mais ancestral, se quisermos fazer valer o cuidado e a espiritualidade.

Sem essas duas dimensões não iremos nos mobilizar para cuidar da Terra, da água, do clima, das relações inclusivas. Precisamos cuidar de tudo, sem o que as coisas se deterioram e perecem. E então iríamos encontro de um cenário dramático.

Outra tarefa é resgatar a dimensão da espiritualidade. Ela não deve ser identificada com a religião. Ela subjaz à religião porque é anterior a ela. A espiritualidade é uma dimensão inerente ao ser humano como a razão, a vontade e sexualidade. É o lado do profundo, de onde emergem as questões do sentido termnal da vida e do mundo.

Infelizmente estas questões foram tidas como algo privado e sem grande valor. Mas sem sua incorporação, a vida perde irradiação e alegria. Mas há um dado novo: os neurólogos concluiram que sempre que o ser humano aborda estas questões do sentido, do sagrado e de Deus, há uma aceleração sensível nos neurônios do lobo frontal. Chamaram a isso “ponto Deus” no cérebro, uma espécie de órgão interior pelo qual captmos a Presença de uma Energia poderosa e amorosa que liga e re-liga todas as coisas.

Avivar esse “ponto Deus” nos faz mais solidários, amorosos e cuidadosos. Ele se opõe ao consumismo e materialismo de nossa cultura. Todos, especialmente os que estão na escola, devem ser iniciados nessa espiritualdidade, pois nos torna mais sensíveis aos outros, mais ligados à mãe Terra, à natureza e ao cuidado, valores sem os quais não garantiremos um futuro bom para nós.

Inteligência cordial e espiritualidade são as exigências mais urgentes que a a tual situação ameaçadora nos faz.

 

Leonardo Boff é teólogo e filósofo. (Artigo publicado no Jornal A Gazeta de 02/03/2015)

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